Salsaparrilha (Smilax aspera L.)

flora silvestre

Espécie: Smilax aspera L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Liliales
Família: Smilacaceae/ant. Liliaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Salsaparrilha-bastarda, salsaparrilha-rugosa, alegra-campo, alegação.
English names: Rough bindweed, Sarsaparille.

Liana tropical na mata mediterrânica.

Identificação: Planta escandente, rizomatosa, de caules lenhosos providos de acúleos. folhas algo sagitadas (triangulares), muito lustrosas e claras quando jovens, verde-escuras quando adultas, de margem áspera, aculeada. Sob algumas folhas existem estípulas transformadas em gavinhas como é próprio das lianas. Flores amarelo-claras unissexuais. As flores femininas apresentam três estigmas, as masculinas seis estames. As suas bagas são vermelhas muito escuras dispostas em cacho.

Tipo fisionómico: Microfanerófito.

Distribuição: Europa mediterrânica e Macaronésia, Índia, África tropical, de onde é originária, e Médio Oriente.

Habitat: Florestas, matos, ruínas, locais quer sombrios quer ensolarados e ruderais. Adapta-se tanto a solos ácidos como básicos.

Floração: Final do Verão e Outono.

Princípios activos: Saponósidos, tanino, cálcio, potássio e colina.

Propriedades: Depurativa, tónica, comestível (rebentos jovens), vermífuga, sudorífera e decorativa.

Usos: Os seus rizomas foram já usados como diurético e no tratamento da gota e de algumas doenças de pele, entre elas a psoríase. Os rebentos jovens são usados como substituto dos espargos. As defumações feitas com os seus rizomas secos são bons para a asma. Em tinturaria, um corante vermelho pode ser obtido a partir das estípulas.

Curiosidades: Há referência de que durante o Renancimento a salsaparrilha tenha sido usada no tratamento da peste negra e da sífilis (Pietro Mattioli, século XVI), como sucedânio da Smilax china L. (raíz-da-china) por igualmente apresentar a combinação de saponina-smilacina (Keys, 1997). A sífilis, outrora designada por “morbo gálica”, tomou o nome do protagonista de um poema do médico Girolamo Fracastoro (1478-1553). Syphilis era um pastor que ofendeu o deus Sol e foi punido com a doença. O bacilo Treponema pallidum (morbo gálica) foi finalmente identificado em 1905.

O lúpulo é igualmente conhecido pelo nome de salsaparrilha, a salsaparrilha-do-reino.

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Jacinto-das-searas (Muscari comosum (L.) Mill.)

flora silvestre

Espécie Muscari comosum (L.) Mill.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Hyacinthaceae/Ant. Liliaceae
Sinonímia: Hyacinthus comosus L. Muscari comosum Mill.
Nomes comuns: Jacinto-das-searas, nazareno, torre-de-igreja, sino-de-são-josé.
English name: Grape hyacinth.

O seu nome científico, Muscari, deve-se à semelhança entre o seu perfume e o aroma do almíscar (musk) de origem animal. Chamado vulgarmente de jacinto em quase toda a Europa, a ele ficou associado o santo do mesmo nome, patrono da Polónia. A forma das suas flores não passa despercebida, ainda que vislumbrada ao longe, e constitui uma interessante amostra da criatividade da Natureza.

Identificação: Erva vivaz que pode atingir cerca de 60 cm de altura. Com folhas basais estreitas, apresenta flores lilases globulares e estéreis encimadas num caule erecto. Abaixo do perianto localizam-se as bolsas de néctar em forma de flores tubulares castanhas. Corolas de 6 pétalas em forma de botão.

Tipo Fisionómico: Geófito.

Distribuição: Austrália. Naturalizada na Europa desde o século XVII.

Habitat: Margens dos caminhos, ervais e ruderais, com preferência por solos ácidos, rochosos, húmidos e sombrios.

Floração: Abril/Maio.

Princípios activos: Glícidos, vitaminas e minerais.

Propriedades: Diurético, cicatrizante, melífero.

Partes usadas: Flores.

Usos: Usado directamente sobre a pele em casos de queimaduras ligeiras e abrasões. Muito melífero.

Curiosidades: Por florescerem por altura da Páscoa, foram chamados de nazarenos. Em Espanha recebem ainda os nomes de «cravos-de-deus» e «penitentes». Na Grécia, os bolbos são usados em culinária sob a forma de pickles.

Uma espécie de Muscari nativa de Israel faz parte do emblema da rebelião do povo Israelita contra a escravatura de que este fora vítima no Egipto.

Na Escandinávia, existe uma correlação simbólica entre o muscari, o “cravo-de-deus” e a estrela Polar, ligando deste modo o muscari ao deus Thor.

Na Vila de Parede, encontramo-lo apenas num local, num microcatena umbrófilo formado pela presença do depósito da água localizado entre o bosque de pinheiro-de-alepo e a área aberta que dá acesso à antiga 2ª Bateria Militar. Aí encontra-se em estreita associação com outras Liliopsidas, como a estrela-de-belém e o alho-selvagem, e as parasitárias erva-toura e íris-pé-de-cabra.

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Estrela-de-belém (Ornithogalum narbonense L.)

flora silvestre

Espécie: Ornithogalum narbonense L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Hyacinthaceae/Ant. Liliaceae
Nomes comuns: Ornitogalo, leite-de-pássaro, estrela-de-belém, cebolinho-de-flor-branca.
English name: Star of Bethlehem.

No início da Primavera, os bolbos adormecidos voltam a evidenciar-se nos recantos húmidos dos ruderais e das margens ripícolas.  

Identificação: Pode atingir mais de 1m de altura. Apresenta folhas longas, lineares e estreitas de um tom verde-cinza que partem directamente do bolbo subterrâneo. Flores dispostas ao longo do caule numa construção piramidal. Possui entre 20 a 50 flores de 6 pétalas brancas e estreitas que apresentam uma nervura longitudinal esverdeada, algo que a torna facilmente identificável. Os frutos são cápsulas verdes e ovais que pendem ao longo do caule.

Tipo Fisionómico: Geófito.

Distribuição: Nativa de França, encontrou um lar em praticamente toda a bacia do Mediterrâneo.

Habitat: Surge em terrenos incultos, perto de ruínas e em lugares sombrios.

Floração: Primavera.

Princípios activos: Flavoinóides, alcalóides, glicósidos.

Propriedades: Ornamental.

Partes usadas: Flores.

Usos: Ornamental.

Curiosidades: O seu nome deriva da junção das palavras gregas ornis, “pássaro”, e galos, “leite”, daí chamar-se-lhe também “leite-de-pássaro”.

A forma estelar das suas flores levou a que fosse comparado à estrela que supostamente terá conduzido os Reis Magos até Bethléem, o que lhe granjeou o nome de “estrela-de-belém”.

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Espargos-silvestres (Asparagus spp.)

flora silvestre

Espécie: Asparagus albus L.
Divisão: Magnoliphytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Liliales
Família: Asparagaceae/Ant. Liliaceae)
Sinonímia: Asparagus pallidus Salisb.; Asparagopis alba (L.) Kunth.
Nomes comuns: Estrepes, espargo-branco.
English name: Wild asparagus.

Conhecidos dos antigos Gregos e Egípcios, os espargos silvestres foram outrora muito apreciados gastronomicamente. Uma iguaria do passado que poderá alimentar o futuro.

Identificação: A espécie A. aphyllus, conhecida por espago-bravo ou corruda-menor, é um arbusto perene que cresce até 1 m, prostrado e facilmente identificável pelas suas folhas transformadas em cladódios, conferindo-lhe uma aparência espinhosa que se refere a uma adaptação xerofítica. Os seus cladódios são desiguais em tamanho, facto que o distingue de uma espécie análoga, o A. acutifolius. As flores são de um tom amarelo-claro esverdeado ou esbranquiçado e acuminadas. O fruto é uma baga verde-azulada, madura no Inverno.

O A. abus, conhecido por estrepes, é também um arbusto perene, que atinge cerca de 60 cm de altura, embora o seu crescimento seja tendencialmente prostrado. As suas folhas verde-escuras são uninérveas e curtas, formando verticíolos em torno do caule branco. As flores são brancas, numerosas, de androceu violáceo e de aroma agradável. O fruto é uma baga.

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A. albus L.

Tipo Fisionómico: Nanofanerófitos.

Distribuição: Sul da Europa, Oeste asiático e Norte de África.

Habitat: Ruderais, matos, bosques, matagais.

Floração: Março-Junho. O A. albus floresce a partir de Julho até Outubro.

Princípios activos: Vitaminas A, C e B1, asparagina, tanino e glicósidos.

flora silvestre

Espécie: Asparagus aphyllus L.
Divisão: Magnoliphytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Lililales
Família: Asparagaceae/Ant. Liliaceae
Sinonímia: Asparagus aphyllus L. for. macroclados Henriq.; Asparagus aphyllus L. var. genuinus for.; microclados Henriq.
Nomes comuns: Corruda-menor, espargo-bravo-menor, esparago-silvestre-menor.
English names: Wild asparagus.

Propriedades: Diuréticas, comestíveis. O A. albus é principalmente cardiotónico e laxante.

Partes usadas: Rebentos (espargos) e raízes.

Usos: Para além do uso alimentar dos rebentos, as raízes são usadas em casos de prisão de ventre, icterícia e taquicardia.

Curiosidades: Os rebentos dos Asparagus aphyllus, Aacutifolius e A. albus são tão nutritivos como os do Asparagus officinalis L., introduzido pelo Romanos na Península Ibérica. No século XVIII, as suas qualidades atraíram a atenção da classe burguesa, que fez deles uma iguaria muito consumida até  finais do século XIX.

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Croco-outonal (Acis autumnalis (L.) Sweet.)

flora silvestre

Espécie: Acis autumnalis (L.) Sweet
Divisão: Magnoliphytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Amaryllidaceae-Alliaceae/Ant. Liliaceae.
Sinonímia: Leucojum autumnale L.
Nomes comuns: Croco-de-outono, choramingas, campainhas-de-outono.
English name: Autumn snowflake.

Habitantes dos prados incultos e das ruínas de um passado remoto, os pequenos crocos-outonais pendem para o solo quais gotículas de neve num prenúncio de Inverno.

Identificação: Herbácea bolbosa de cerca de cerca de 15 cm, que parece despontar directamente do solo num caule fino. As folhas basais surgem normalmente após a floração. São lineares e raramente ultrapassam os 15 mm. A flor, solitária ou em grupos de duas ou três, hexâmera e branca, é por norma pêndula.

Tipo fisionómico: Geófito.

Distribuição: Bacia mediterrânica.

Habitat: Solos soalheiros e bem drenados, surge em campos incultos e cultivados, montados, ruínas e áreas abertas.

Floração: Outono.

Princípios activos: Alcalóides tóxicos.

Propriedades: Decorativa.

Partes usadas: Flores.

Usos: Ornamental. Usada em jardins.

Curiosidades: O croco-outonal é um endemismo português e, apesar da sua aparência quando irrompe da terra, trata-se de uma espécie autotrófica. Embora muita gente o conheça como croco-de-outono, não se trata de um croco verdadeiro, já que género Crocus sp., um açafrão, pertence à família das Iridáceas.

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Cila-de-outono (Scilla autumnalis L.)

flora silvestre

Espécie: Scilla autumnalis L.
Divisão: Magnoliphytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Hyacinthaceae/Ant. Liliaceae
Sinonímia: Prospero autumnale (L.) Speta.
Nomes comuns: Cila-de-outono, cila-outonal.
English names: Autumn squill, winter hyacinth, blue bell.

Pequena e formosa aparição no jardim do Outono…

Identificação: Geófito de reduzidas dimensões, glabro, com inflorescência em cacho terminal de entre 3 a 15 flores branco-violáceas, de seis pétalas dotadas de uma nervura longitudinal lilás. O ovário é súpero. Estilete e estigma rosados ou azulados. Folhas inteiras, estreitas, que crescem em roseta directamente do bolbo e que tendem a desaparecer aquando da floração. Sementes negras de formato cónico ou piramidal.

Tipo fisionómico: Geófito

Distribuição: Europa central e ocidental.

Habitat: Ruderais, campos incultos ou cultivados, margens de bosques e de caminhos.

Floração: Final do Verão e Outono.

Princípios activos: Alcalóides tóxicos.

Propriedades: Tóxica e ornamental.

Usos: Jardins de Outono.

Curiosidades: O nome Scilla tem origem do Grego skille, usado por Hipócrates para designar mal-estar e aflição, sintomas provocados pela ingestão desta bela hyacinthácea, que todavia é ideal para a constituição de jardins de Outono/Inverno, sobretudo em locais de sombra parcial.

Existem cerca de noventa espécies do género Scilla.

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Cebola-albarrã (Urginea maritima (L.) Baker.)

flora silvestre

Espécie: Urginea maritima (L.) Baker. Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Hyacinthaceae/Ant. Liliaceae
Sinonímia: Ornithogalum maritimum Brot.; Scilla maritima L.
Nomes vulgares: Cebola-do-mar, cebola-marítima, cebola-albarrã, cebola-silvestre, alvarrã-branca, cila-marítima, cila.
English names: Wild onion.

Num tapete de erva drenada pelo Estio, um cacho de estrelas brancas irrompe da terra numa primavera tardia.

Identificação: Geófito bolboso de aproximadamente 1,50 cm de altura, de crescimento erecto a partir de uma roseta de folhas basais, amplas e lanceoladas. A inflorescência, disposta em cacho terminal, comprido e de grandes dimensões (cerca de 1m), é densa e composta por grande número de flores hexâmeras de seis estames, brancas, que se distinguem facilmente por terem uma nervura longitudinal de um tom acastanhado ou rosa-velho, do mesmo tom do caule.

Tipo fisionómico: Geófito.

Distribuição: Região mediterrânica e Canárias.

Floração: Outono.

Princípios activos: Alcalóides tóxicos.

Propriedades: Tóxica.

Usos: Ornamental e como desratizante. Das escamas dos bolbos, quando verdes, obtém-se um cataplasma para o inchaço dos joelhos (hidrartrose). O seu uso interno está prescrito para casos de bronquite e cardiopatias com edema, todavia não deve ser tomado sem avaliação prévia e sem vigilância médica.

Curiosidades: Assemelha-se bastante à sua congénere primaveril, Ornithogalum narbonense L. (estrela-de-belém) que na Vila de Parede vegeta num lugar não muito afastado do local onde esta planta se encontra. A principal diferença entre elas, para além da época do ano em que florescem, é a cor, que na cebola-do-mar é acastanhada e na estrela-de-belém é esverdeada.

Os seus bolbos reduzidos a pó funcionam como insecticida e desratizante.

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Asfódelo (Asphodelus fistulosus L.)

Espécie: Asphodelus fistulosus L. Divisão: Magnoliophytas Classe: Liliopsidas Ordem: Liliales Família: Liliáceas (asphodelaceae) Sinonímia: Asphodelus albus Mill. raça morisianus Samp. Asphodelus lusitanicus P. Cout. Nomes comuns: Asfódelo, abrótea-da-Primavera, abrótega, tremoção. English Name: Asphodel.

Espécie: Asphodelus fistulosus L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Xanthorrhoeaceae (Asphodelaceae). Ant. Liliaceae
Sinonímia: Asphodelus albus Mill. raça morisianus Samp.
Asphodelus lusitanicus P. Cout.
Nomes comuns: Asfódelo, abrótea-da-Primavera, abrótega, tremoção.
English Name: Asphodel.

Flor da Morte, flor dos mortos; Hades ofereceu-a a Perséfone e a ela a consagrou. Homero fala-nos do asfódelo na Odisseia, associando-o à ressurreição. Por esse motivo, os Campos Elísios, morada infernal dos bem-aventurados, achavam-se atapetados pelas suas flores alvas levemente rosadas. Na Antiguidade Clássica, o asfódelo acompanhava os mortos na longa viagem para o Submundo; era por excelência o alimento da eternidade. Encontramo-lo, ainda hoje, em lugares abandonados, cemitérios, eidos de esquecimento e de solidão.

Identificação: Esta monocotiledónea que cresce até cerca de 1 metro de altura, está a tornar-se cada vez mais rara. É facilmente identificável no início da Primavera, entre finais de Fevereiro e meados de Março, quando floresce. As suas corolas, de um branco ligeiramente ensombrado de rosa, formam estrelas de seis pontas com uma nervura central acastanhada que se prolonga pelas seis pétalas. O seu fruto é uma cápsula oval tripartida que contém um grande número de sementes pretas. Algumas das espécies de Asphodelus geram tubérculos que, segundo Plínio, o Velho, eram assados sobre cinzas, embora a asfodelina seja algo tóxica. O seu aroma, ora suave ora intenso, lembra o do jasmim.

Tipo Fisionómico: Terófito.

Distribuição: Existem cerca de 16 espécies na Europa e no Médio Oriente.

«Um fresco perfume desprendia-se dos tufos de asfódelos;  Os sopros da noite flutuavam sobre Galgala...  Ruth sonhava e Booz dormia; a erva era negra...» (Victor Hugo)

«Um fresco perfume desprendia-se dos tufos de asfódelos;
Os sopros da noite flutuavam sobre Galgala…
Ruth sonhava e Booz dormia; a erva era negra…»
(Victor Hugo)

Habitat: Cresce em terrenos baldios, ruínas e antigas necrópoles.

Floração: Fevereiro/Março.

Princípios activos: Contém asfodelina (tóxica) e outras antraquinonas, tais como a microcarpina e crisofanol.

Propriedades: Coalhante e anti-hemorroidal.

Partes usadas: Rizomas, flores e frutos.

Usos: Durante a Segunda Guerra Mundial foi usado em panificação. As flores frescas são utilizadas no fabrico de queijo. Os rizomas usam-se sob a forma de cataplasma no tratamento do hemorroidal.

Curiosidades: Na Córsega, no Dia de Todos os Santos, as flores de asfódelo são deixadas a arder sobre as tumbas, em lamparinas de azeite. O seu perfume, embora lembre o do jasmim, em certas alturas adquire um cheiro desagradável que se deve a uma defesa da própria planta contra o gado que, de outra forma, tentaria comê-la. Talvez este odor tão peculiar tenha levado a que na Antiguidade o associassem à decomposição e à morte. A frequência com que acorre em antigas necrópoles prende-se directamente com facto de ter sido continuamente usada como planta fúnebre, o que potenciou a disseminação de sementes nestes locais.

 O seu nome deriva de Grego “asphodelos” e significa “aipo”.

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Alhos-selvagens (Allium spp.)

flora silvestre

Espécie: Allium neapolitanum Cirillo.
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Amaryllidaceae/Ant. Alliaceae
Sinonímia: Nothoscordum inodorum (Aiton) G. Nicholson.
Nomes vulgares: Alho-de-Nápoles, alho selvagem branco, alho-das-valas.
English names: Daffodil garlic, wild garlic.

Os fins-de-tarde sombrios são propícios ao avistamento de fadas nas florestas e nos meios rurais; entenda-se por fadas a ilusão óptica que nos acomete ao lusco-fusco e nos faz crer num campo coberto por pequenas flores que se desvanecem quando focamos melhor o olhar. Tinha ido até junto da casa abandonada em busca de fumo-da-terra, uma variedade clara que eu sabia ali existente. Para meu desgosto, toda aquela área tinha sido arrasada pelos herbicidas. Do fumo-da-terra apenas restavam algumas raízes mortas agarradas com afinco a um solo nu e lamacento. Nunca percebi por que razão as pessoas preferem conviver com a desolação e com a sujidade, quando em vez disto poderiam valer-se das plantas que crescem espontâneas sem que peçam algo em troca além de respeito.
Ao subir a rua, já de regresso a casa, dei conta de uma alvíssima flor a espreitar-me por entre malvas e gramíneas. Era um alho-selvagem muito particular, um alho-de-Nápoles, e não estava só, achava-se rodeado por outros do seu género, delicados alhos-rosa que iluminavam com a sua simplicidade um emaranhado criptogâmico. Talvez estas imagens sejam tudo quanto deles reste em breve, quando regressarem os herbicidas.

flora silvestre

Espécie: Allium roseum L.
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Amaryllidaceae/Ant. Alliaceae
Sinonímia: Allium roseum L. var. typicum Regel.
Nomes vulgares: Cebolinho-rosado, alho-selvagem-rosa, alho-das-valas.
English names: Wild garlic.

Identificação: Herbáceas bolbosas e perenes, de folhas glabras, estreitas e paralelinérveas.  A. neapolitanum  (alho-neapolitano) atinge cerca de 50 cm de altura. Caule dividido em múltiplos pecíolos longos e  lassos, corola composta por seis pétalas muito brancas, um carpelo ligeiramente rosado na base, rodeado pelo androceu de seis estames de anteras esverdeadas de inserção dorsal.

O A. roseum (alho-rosa) apresenta igualmente um caule dividido em múltiplo pecíolos, sendo estes de menores dimensões. A corola difere também do seu congénere na cor, sendo com frequência rosada. As suas anteras são de reduzida dimensão e de um tom vivo, amarelo-alaranjado.

O A. ampeloprasum (alho-de-verão) exibe folhas espessas, paralelinérveas e lanceoladas, de aroma intenso. Possui um pseudo-estema formado pelo enrolamento das folhas basais. A inflorescência é arroxeada e esférica.

O A. gracile (alho-de-perdiz), mas conhecido entre os taxonomistas por Nothoscordum gracile, apresenta igualmente caules fistulosos de secção circular divididos numa cimeira de flores brancas, rosadas antes da ântese, e hexâmeras. O que realmente o distingue são os seus estames achatados, quase petalóides, que não ultrapassam as pétalas.

flora silvestre

Espécie:  Allium ampeloprasum L.
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Amaryllidaceae/Ant. Alliaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes vulgares: Alho-porro-selvagem, alho-de-verão, alho-inglês.
English names: Great-headed garlic; levant garlic, elephant garlic.

Tipo Fisionómico: Geófitos/terófitos.

Distribuição: O alho-neapolitano é frequente na região de Nápoles e em toda a bacia do Mediterrâneo. Crê-se tanto os alhos como a maioria das cebolas comestíveis sejam originários das estepes do Quirguistão. Hoje a distribuição estas espécies silvestres é bastante alargada a nível europeu, principalmente mediterrânico. O alho-de-perdiz é oriundo do México.

Habitat: Terrenos soalheiros e abrigados, ruderais, margens de caminhos, prados incultos, ripícola. Tanto a A. roseum como o A. ampeloprasum suportam condições edafoxerófilas.

Floração: Fevereiro-Abril. O A. ampeloprasum e o A. gracile florescem por último, em Maio-Junho.

Princípios activos: Contêm vitaminas A, B1, B2, C e PP, cálcio, ferro, magnésio, pectina e alicina. O A. ampeloprasum contém uma percentagem significativa de arginina, usada pela indústria cosmética na preparação de champôs para fortalecimento das raízes capilares.

flora silvestre

Espécie: Allium gracile Dryand. ex Aiton, Hort. Kew.
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales/Ant. Liliales
Família: Amaryllidaceae/Ant. Liliaceae
Sinonímia: Nothoscordum gracile (Aiton) Stearn;
Nothoscordum fragrans (Vent.) Kunth;
Nothoscordum inodorum (Aiton) Asch. & Graebn.
Nomes vulgares: Cebolinha-de-perdiz, alho-bravo.
English names: Onion weed.

Propriedades: Anti-bacterianas, anti-sépticas, vermífugas, expectorantea, febrífugas, venotónicas.

Partes usadas: Planta completa, principalmente os bolbos.

Usos: Todas as espécies de alhos silvestres são comestíveis. As pétalas e folhas são um óptimo tempero para saladas. Combatem a gota, o colesterol, os vermes intestinais e a hipertensão arterial. A alicina é um antibiótico eficaz no combate à gripe, razão pela qual o alho foi muito usado no tratamento da gripe espanhola. Também usado como expectorante e febrífugo.

Particularmente, o A. ampeloprasum é usado como repelente de insectos e desinfectante. Reduz o colesterol e a glicémia. Faz aumentar a temperatura corporal e é considerado um antídoto para mordeduras de serpente. Tomado após o parto, facilita a descarga uterina. A arginina é também considerada um afrodisíaco.

Curiosidades: No Antigo Egipto dizia-se que sete quilos de alho equivaliam a um escravo. Dióscoro, médico grego, e o filósofo Galeno consideravam-no um poderoso antídoto para mordeduras de serpente. No século XIX, Louis Pastour analisou as suas propriedaes anti-microbianas, razão pela qual foi muito utilizado durante as duas grandes guerras para tratamento e prevenção da gangrena.

De acordo com a mitologia medieval, era o alho-selvagem e não o sativo, que afastava os vampiros, assim havia quem o colocasse sobre as portas e janelas para afastar o Mal.

O alho-de-verão, especificamente o seu parente doméstico, o A. ampeloprasum var. porrum, é citado no Talmude e também na Bíblia, a par do alho comum, onde é referido com saudade devido à fome sentida durante o Êxodo, já que nada mais havia para comer além de Maná:

«Lembramo-nos dos peixes que comíamos de graça no Egípto; e dos pepinos e dos melões, e dos porros, das cebolas e dos alhos./Mas agora, a nossa alma seca-se; coisa nenhuma há, senão este Maná, diante dos nossos olhos.» Números 11:5-6

Os Judeus, de acordo com o Talmude, consomem-no à sexta-feira, segundo a tradição de que o alho faz o rosto brilhante, aumenta a fertilidade, mata os parasitas e mantém o corpo quente.

Durante uma epidemia de peste negra que devastou Marselha em 1722, um grupo de ladrões espoliava os corpos das vítimas caídas nas ruas ou em suas casas, escapando imunes ao contágio por supostamente ingerirem alho macerado em vinagre.

As brincadeiras solsticiais das festas de São João no Porto celebrizaram-no, porém a sua recente substituição por martelinhos de plástico obscureceu esta liliácea que ainda hoje habita espontaneamente os nossos ruderais.

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Trigo-sarraceno ( Fagopyrum esculentum Moench.)

flora silvestre

Espécie: Fagopyrum esculentum Moench.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Caryophyllales
Família: Polygonaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes vulgares: Trigo-sarraceno, trigo-mourisco.
English name: French wheat.

Sarracena ou mourisca, esta bela, nutritiva e terapêutica poligonácea chegou à Europa pelas mãos dos cruzados.

Identificação: Herbácea glabra, de caules avermelhados e finos, ramificados nos nós. Distingue-se pelas folhas macias, francamente sagitadas, inteiras, pecioladas (inferiores) ou sésseis amplexicaules (superiores). As flores, pentâmeras, branco-rosadas, hermafroditas, reúnem-se em panículas perfumadas. O fruto é uma cápsula piramidal.

Tipo Fisionómico: Terófito.

Distribuição: Originária da Ásia Central, encontra-se distribuída um pouco por toda a Europa, Norte de África, Médio e Extremo Oriente.

Habitat: Apesar de ser subespontânea na Europa, não é fácil encontrar exemplares fora dos terrenos onde é cultivado, mas por vezes surge em ruderais e até bermas de caminhos, locais rochosos como o local onde este exemplar foi encontrado.

Floração: Maio-Setembro.

Princípios activos: Fagopirina, vitamina P, quercitina, lisina, taninos, ferro, zinco, magnésio, manganês, selénio, fibras.

Propriedades: Nutritiva, adstringente, anti-cancerígena, venotónica, melífera e tintureira.

Partes usadas: Sementes e flores.

Usos: Muito utilizada gastronomicamente, quer como grão, quer como farinha. Para além de nutritiva, as sementes podem ser usadas em infusões. A sua inclusão na dieta previne a arteriosclerose, diabetes, doenças cardiovasculares, combate a obesidade e previne o cancro da mama, nomeadamente durante a menopausa.

Das sementes faz-se cerveja e das flores extrai-se um pigmento castanho, em tempos usado em tinturaria.

Curiosidades: Na Virgínia, EUA, existe um festival dedicado ao trigo-sarraceno.

Esta planta já era conhecida no Japão há mais de 6000 anos. Na Europa foi introduzida pelos Cruzados franceses e ibéricos, daí o seu nome vulgar ter ficado ligado, por um lado, aos povos islâmicos que ocupavam nessa época a Terra Santa, os Mouros ou Sarracenos, e, por outro, aos franceses (french wheat).

Durante muito tempo esquecido, o trigo-sarraceno voltou a estar na moda muito recentemente, devido a ser um alimento bem adaptado às necessidades da vida moderna.

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