Fumárias (Fumaria spp.)

flora silvestre

Espécie: Fumaria officinalis L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae-Fumariaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Fumária, catarinas-queimadas, fumo-da-terra, erva-das-candeias.
English name: Fumitory, earth smoke.

Chamam-lhe fumo-da-terra por nos fazer lacrimejar. O seu estranho odor a fumo desde cedo a tornou num incensário natural capaz de fazer chorar os espíritos dos mortos que se acercam dos vivos com intuitos duvidosos… Mas nem só de superstição vivem estas nossas amigas, frequentadoras das valas e fossos do mundo temperado. «Mente sã em corpo são» é um slogan mais ao seu jeito, porque nenhum demónio se imiscui numa mente saudável.

Identificação: Herbáceas anuais, subtrepadoras e muito ramificadas, apresentam folhas de pequenas dimensões, penatissectas e verde-claras. As inflorescências brotam terminalmente em oposição às folhas correspondentes e compõem-se de pequenas flores zigomórficas, tubulares e tetrâmeras, que podem ir do branco ao rosa-velho e cuja zona apicial das pétalas internas apresenta uma mancha escura, arroxeada. São dotadas de dois estames e três anteras, sendo que apenas a central é biteca. Os frutos monospérmicos são aquénios globosos e muitas vezes tornam-se decisivos na identificação da espécie exacta.

flora silvestre

Espécie: Fumaria agraria L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae-Fumariaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Fumária, fumo-da-terra, catarinas-queimadas.
English names: Field fumitory, earth smoke.

A F. officinalis é bastante rosada e apresenta inflorescência alongadas; a F. agraria é a maior deste género, com inflorescências claras, de cerca de 25-30 flores, cujo ápice das pétalas externas se apresenta rosado ou arroxeado, para além da característica mancha escura das pétalas internas, comum a todas as espécies.  A F. capreolata apresenta inflorescências geralmente brancas ou rosa-claras, em que pelo menos metade das flores, geralmente as inferiores, são inflexas.

A nível fitoquímico e terapêutico não se registam grandes discrepâncias entre as muitas espécies deste género, sendo, ainda assim, mais procurada a F. officinalis.

Tipo Fisionómico: Terófitos.

Distribuição: Endémicas da região mediterrânica e Sudoeste europeu.

Habitat: Surgem em matagais, margens de caminhos, margens de rios, searas, fossos e ruderais. Podem surgir como rupícolas em muros e passeios.

Floração: Quase todo o ano, dependendo da espécie, sendo que na Primavera estão sempre em flor.

flora silvestre

Espécie: Fumaria capreolata L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae-Fumariaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Fumária.
English name: Fumitory, earth smoke.

Princípios activos: Coridamina, bulgaramina e 2-hidrofumarilina (alcalóides), taninos, flavonóides, sais de potássio, protoberberinas, mucilagem, benzodiazepinas e protopinas, colina e ácido fumárico.

Propriedades: Anti-acneica, antiespasmódica, antibacteriana, diurética, carminativa, adelgaçante, sedativa, anti-colesterol, anti-histamínica, depurativa, tónica-hepática, laxante, anti-tabágica, digestiva.

Partes usadas: Partes aéreas floridas.

Usos: A infusão de fumária está prescrita em casos de acne, deficiências biliares, gota, reumatismo, arteriosclerose, tabagismo, icterícia, taquicardia, cansaço, astenia e prisão de ventre. É empregue como adelgaçante, depurativo sanguíneo, laxante e diurético, bem como em enxaquecas de origem biliar, asma e hipertensão, na prevenção de tomboses e tromboflobites. Em loção, fervida em azeite, é aplicada topicamente sobre peles acneicas e impinges.

Os tratamentos com fumária não devem exceder os 2 meses, sendo que as tomas devem ser descontínuas. Não é aconselhável a crianças e grávidas nem a doentes que sofram de glaucoma ou epilepsia.

Curiosidades: O extracto de fumária é empregue como aromatizante natural de alimentos (cat. N3).

As flores são usadas desde a Antiguidade no tingimento de lãs, produzindo uma tonalidade amarela.

Como anti-tabágica, é usada na produção de cigarros que auxiliam quem procura deixar de fumar.

O físico árabe Avicena refere-a como tónica e depurativa.

A fumária é considerada uma planta mágica associada ao elemento terra e empregue em rituais místicos desde a Antiguidade Clássica, que visam a atracção de riqueza e o exorcismo de espíritos malignos.

Publicado em Fumariáceas, Papaveráceas | Etiquetas , , , , | 1 Comentário

Dormideira (Papaver somniferum L.)

flora silvestre

Espécie: Papaver somniferum L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Dormideira, papoila-de-ópio.
English name: Opium Poppy.

Poderosa pelo seu látex, o ópio, que lhe é extraído da cápsula enquanto verde, a dormideira é amaldiçoada por uns e abençoada por outros, espelhando sem contradições o bem e o mal passivos na Natureza. O seu poder hipnótico relaciona-a com o sono eterno, com a morte. As suas pétalas frágeis adornam a cabeça de Morpheu (Somnus) adormecido, inspirando-lhe os sonhos que Hermes-Mercúrio traz aos homens…

Identificação: Muito semelhante à papoila comum mas de muito maior dimensão, apresenta folhas ovado-oblongas, lobadas, claras, de limbo ondulado e verde-acinzentado. Cápsulas poricidas de grande dimensão contêm um elevado número de sementes negras. As pétalas poderão ser vermelhas, rosadas, lilases ou brancas.

Tipo fisionómico: Terófito.

Distribuição: Nativa do Médio Oriente e do Leste europeu, foi introduzida na Índia pelos Persas.

Habitat: Surge em matagais, margens de caminhos, margens de rios, ruderais. Pode surgir como rupícola em muros e passeios.

Floração: Maio/Junho.

Princípios activos: Morfina, narcotina, tebaína, narceína, papaverina e codeína.

Propriedades: Narcótica, estomáquica, venotónica, sedativa, calmante, anestésica e nutritiva.

Partes usadas: Látex das cápsulas, pétalas e sementes.

Usos: Tirando a presença do látex, o ópio, que queimado dá origem à dimorfina (heroína), as pétalas e as sementes são usadas para os mesmos fins que as da Papaver rhoeas, como anestésico ligeiro e calmante, sendo igualmente empregues em doçaria. O consumo das sementes melhora a circulação sanguínea e resolve problemas estomacais. A codeína é usada como analgésico e na prevenção da tosse. Alivia a tensão muscular e é anti-espasmódica. O ópio em si, possui efeitos alucinogénicos e hpnóticos, criando uma sensação de «não-tempo».

Curiosidades: Os opiómanos, fumadores de ópio, vêem-se muitas vezes obrigados a recorrer à cirurgia plástica, uma vez que o ópio faz dilatar a cana do nariz. O ópio produz visões estáticas, imagens paradas que parecem suspender o tempo, pelo que se crê ter sido usado pelos pintores rupestres do Paleolítico Superior na criação das suas gravuras.

Os Gregos e os Romanos já conheciam o ópio desde pelo menos o século IV a.C.. As suas propriedades narcóticas fizeram da dormideira uma planta mística, usada em rituais mágicos, poções de amor e venenos desde épocas proto-históricas.

No século XIX, a China impôs taxas alfandegárias elevadíssimas ao ópio indiano comercializado pelos Ingleses, o resultado disto foi a Guerra do Ópio que terminou em 1847.

A morfina e a codeína são dois derivados do ópio. Dadas as suas propriedades soníferas, a dormideira tornou-se num emblema funerário, pelo que é comum encontrá-la esculpida em túmulos e lápides como que a ilustrar o sono eterno.

Publicado em Papaveráceas | Etiquetas , , , , , | 1 Comentário

Papoilas-vermelhas (Papaver spp.)

flores silvestres

Espécie: Papaver rhoeas L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae
Sinonímia: Papaver rhoeas L. raça strigosum (Boenn.) Samp.Papaver rhoeas L. subsp. strigosum (Boenn.) P. Cout.Papaver rhoeas L. var. strigosum Boenn.Papaver strigosum (Boenn.) Schur
Nomes comuns: Papoila, papoila-vulgar, papoila-rubra, papoila-das-searas, papoula, papoula-brava.
English name: Poppy.

Tantas vezes confundida com a dormideira e perseguida pelo tão famoso látex que não possui, a comum papoila-vermelha quase foi levada à extinção em certas zonas próximas a núcleos urbanos… Enquanto isso, a sua congénere Papaver somniferum, a verdadeira papoila de ópio, ganhou terreno contra todas as probabilidades, embora nos últimos anos tenha visto o seu habitat reduzido pela pressão urbanística.

Identificação: A P. rhoeas é Famosa pela cor vermelha das suas quatro pétalas suborbiculares frágeis, desenvolvidas em torno de uma cápsula poricida muito pequena e glabra, que contém inúmeras sementes negras. Caules finos e pilosos partem de um núcleo de folhas basais verde-claras, lanceoladas e dentadas, e caulinares penatipartidas ou penatissectas. Possui numerosos estames de anteras escuras e azuladas. A espécie P. dubium revela uma tonalidade mais alaranjada ou um vermelho menos intenso e apresenta pétalas ovadas, que na raça pinnatifidum são mais estreitas e decussadas.

Tipo Fisionómico: Terófito.

flora silvestre

Espécie: Papaver dubium L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Papoila.
English name: Poppy.

Distribuição: Europa, Norte de África e Ásia.

Habitat: Surge nos passeios, nas margens dos caminhos, em searas, margens de rios, ruderais.

Floração: Março/Junho.

Princípios activos: Taninos, morfina, papaverina.

Propriedades: Calmante, estomáquica, sedativa, analgésica, anti-tússica e venotónica.

Partes usadas: Folhas, pétalas e sementes (as cápsulas não).

flora silvestre

Espécie: Papaver pinnatifidum Moris
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Ranunculales
Família: Papaveraceae
Sinonímia: Papaver dubium L. raça pinnatifidum (Moris) Samp.
Nomes comuns: Papoila.
English name: Poppy.

Usos: A infusão das pétalas e das folhas é calmante e possui um efeito narcótico muito suave e analgésico. As sementes podem ser adicionadas ao pão em substituição do sésamo.

Curiosidade: As sementes da papoila são muito apreciadas na doçaria húngara, sendo mais comum a utilização das da P. somniferum.

Publicado em Papaveráceas | Etiquetas , , , , , , | 1 Comentário

Malva-real (Althea rosea L./ Alcea rosea L.)

flora silvestre

Espécie: Althea rosea L./ Alcea rosea L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Malvales
Família: Malváceas
Sinonímia: Althaea chinensis Wall., Althaea ficifolia Cav., Althaea rosea Cav.
Nomes comuns: Malva-real, alteia-rósea, álcea-rósea, alteia, alcea, malva-rosa, malva-louca, isabella.
English name: Hollyhock.

É provavelmente a erva-daninha mais cobiçada do mundo. Por vezes invade os nossos quintais com a sua exuberância, mas quem seria capaz de a rejeitar? O esplendor supérfluo não é mais do que uma pálida manifestação de dons maiores, a cura que transporta no invisível e a vontade de partilhar connosco o arcano que a torna tão bela.

Identificação: Planta erecta que cresce a partir de uma roseta de folhas basais e que pode atingir uma altura superior a 2 metros. Possui folhas largas, lobadas, muito nervuradas e ásperas ao toque. Flores de grandes dimensões (mais de 10cm de diâmetro) que variam de tom, desde o azul-escuro ao vermelho-negro intenso.

Tipo fisionómico: Nanofanerófito.

Distribuição: Europa mediterrânica e Costa Atlântica. Fora da Península Ibérica é mais comum a espécie Alcea biennis, muito similar a esta.

Habitat: Podemos encontrá-la nos campos, nas bordaduras de bosques, junto a cursos de rios e em terrenos incultos. Cresce frequentemente junto a ruínas.

Floração: Primavera/Verão.

Princípios activos: Antocianinas, mucilagem e taninos.

Propriedades: Anti-inflamatória, expectorante, anti-alérgica.

Partes usadas: Folhas, flores e raízes.

Usos: Esta espécie de alteia é também muito usada como anti-inflamatória e expectorante. Constitui um anti-rugas natural e um excelente tónico capilar. Emprega-se especialmente em casos de asma, tosse, obstipação e inflamações do sistema digestivo. Recomenda-se a infusão de 2 colheres de sopa de flores secas num litro de água (três chávenas/dia). Pode, igualmente, ser usada em compressas para suavizar a pele inflamada devido a queimaduras solares. À semelhança das malvas, todas as espécies de alteia são prescritas para uso ginecológico.

Curiosidades: Em associação com o tomilho, o poder anti-tússico da alteia é exponenciado.

Uma das espécies de alteia, a Althea narbonensis, pode ser utilizada no fabrico de papel, devido ao comprimento das suas fibras.

A alteia mais usada medicinalmente, a althea officinalis L., é muito semelhante à alteia-real em termos morfológicos e princípios activos, possuindo, porém, flores bem mais pequenas e folhas de toque aveludado.

A palavra althea vem do Grego e significa “cura”. Os Romanos adaptaram o nome para o latim, chamando-lhe “alcea”, daí podermos encontrá-la sob ambos os nomes no catálogo de Lineu.

Publicado em Malváceas | Etiquetas , , , | 1 Comentário

Malvas (Malva ssp.)

flora silvestre

Espécie: Malva sylvestris L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Malvales
Família: Malvaceae
Sinonímia: Malva sylvestris L.. var. ambígua (Guss.) Samp.; Malva sylvestris L. var. polimorfa (Guss.) Parl.; Malva sylvestris L. ssp. ambígua Rouy for. Ericarpa (Boiss.) P. Cout.
Nomes comuns: Malva, malva-silvestre, malva-comum, malva-maior, malva-selvagem, malva-das-boticas, malva-mourisca.
English name: Mallow.

Dispensa apresentações, este fanerófito de uso milenar, de caules fibrosos e flores cor-de-malva, ou não fosse ela a planta que deu nome à cor que a caracteriza, bem como a vilas onde cresce em abundância, as Malveiras.

Identificação: Herbáceas anuais ou bianual, erectas (M. multiflora) ou tendencialmente prostradas (M. sylvestris), de caules fibrosos e algo pubescentes, macios e ramificados, que raramente ultrapassa os 80 cm de altura. As folhas, amplas e macias, são palminérveas e recortadas. As flores, de cerca de 2.5 cm de diâmetro, solitárias ou mais frequentemente em pequenos grupos de duas ou três, são pentâmeras e lilases, marcadas por veios arroxeados e ápice fendido. Na espécie M. sylvestris são geralmente mais escuras, maiores, violáceas, e as folhas mais profundamente palmatifendidas em três-cinco lobos.

Tipo fisionómico: Terófitos/Nanofanerófitos.

Distribuição: Europa mediterrânica e Costa Atlântica.

flora silvestre

Espécie: Malva multiflora (Cav.) Soldano, Banfi & Galasso.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Magnoliopsidas
Ordem: Malvales
Família: Malvaceae
Sinonímia: Lavatera cretica L.
Nomes comuns: Malva, malva-comum, malva-maio.
English name: Common mallow.

Habitat: Frequente em ruderais, margens de caminhos, terrenos incultos, orlas de florestas, arribas costeiras e cursos de água.

Floração: Primavera/Verão.

Princípios activos: Antocianinas, mucilagem, vitaminas, minerais e taninos.

Propriedades: Anti-inflamatórias, adstringentes, expectorantes, anti-fúngicas, emolientes, laxantes suaves, calmantes e anti-tússicas.

Partes usadas: Folhas, flores e raízes.

Usos: Externamente, a malva é usada desde há séculos para lavagem genital, sendo um bom auxiliar no tratamento de condiloma, vaginite, herpes, picadas-de-insectos, quistos e furúnculos. Internamente é empregue em inflamações das mucosas bucofaríngea (melhor se combinada com rama de eucalipto) e gástrica, como laxante suave e calmante da tosse seca. A flor em particular é adstringente e usada no combate a diarreias e úlceras internas (tisana), sobretudo quando conjugada com folha de silva.

Gastronomicamente, as folhas podem ser usadas em sopas e saladas, sendo neste último caso preferidas as folhas jovens. São também empregues como corante alimentar e aromatizante. Quando secas são usadas como substituto do chá preto, não tanto pelas propriedades, mas pelo sabor.

Curiosidades: Muito à semelhança do que ocorre com o meliloto, também a malva requer cuidados especiais de colheita, secagem e armazenamento. Assim, as folhas devem ser colhidas antes da floração e secas ao Sol, sendo necessário virá-las todos os dias; as raízes devem ser colhidas no Inverno, raspadas e muito bem limpas antes de serem postas ao Sol; as flores, colhidas assim que abrem, podem ser secas no forno com calor moderado, ou em lugar soalheiro e seco. Toda a planta deve ser armazenada em recipientes de cartão, em local seco e escuro. As flores adquirem uma tonalidade azul após a secagem.

Para além dos usos acima referidos, os caules fibrosos podem ser usados no fabrico de papel e corda. A tintura obtida a partir das flores é utilizada como teste de alcalinidade.

O nome malva surge da fusão da expressão «mal vai-te».

Publicado em Malváceas | Etiquetas , , , , | 1 Comentário

Serapião (Serapias strictiflora Welw. ex. Veiga.)

orquídeas selvagens

Espécie: Serapias strictiflora Welw. ex. Veiga.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Orchidales
Família: Orchidaceae
Sinonímia: Não encontrada.
Nomes comuns: Orquídea-selvagem, erva-língua, serapião.
English name: Tongue orchid.

Uma orquídea selvagem, um endemismo português e um encontro inesperado nas margens de uma ribeira.

Identificação: Esta orquídea invulgar atinge cerca de 35 cm de altura, apresenta folhas linear-lanceoladas e de aproximadamente 12 cm de comprimento. As flores, zigomórficas, de brácteas e sépalas dorsais longas e lanceoladas, brotam em panículas de quatro flores, raramente  menos. De um tom rosa-velho, destacam-se nelas nervuras paralelas de um tom rosa mais escuro. As pétalas laterais são um pouco mais curtas que as sépalas. O epiquilo é geralmente de um rosa muito escuro e sobressai curvado ou pêndulo do hipoquilo.

Tipo Fisionómico: Geófito.

Distribuição: Península Ibérica.

Habitat: Frequentadora dos campos, orlas florestais, margens de rios, serras. Prefere solos arenosos e húmidos.

Floração: Abril-Maio.

Princípios activos: Cumarinas (depois de seca).

Propriedades: Decorativa.

Partes usadas: Flores.

Usos: É rara na Natureza e está ausente dos jardins, embora possa ser usada como decorativa e coleccionável pelos apreciadores. Dela podem ser extraídas cumarinas, para uso em perfumaria, por hidrólise do ácido o-cumárico.

Curiosidade: De acordo com a Flora Iberica, este endemismo foi descoberto no século XIX pelo dr. Friedrich Welwitsch algures entre Belas e Caneças. Este exemplar, curiosa mas não estranhamente, foi encontrado na Várzea do Monte de Leite, Malveira, junto à margem esquerda da Ribeira do Casal Novo. Outro exemplar desta espécie foi detectado num dos ruderais do norte da Vila de Parede.

Publicado em Orquidáceas | Etiquetas , , , | 1 Comentário

Lírio-do-nilo (Chasmanthe aethiopica (L.) N.E. Br.)

flora silvestre

Espécie Chasmanthe aethiopica (L.) N.E. Br.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales
Família: Iridaceae
Sinonímia: Gladiolus stoliniferus Salisb.; Chasmanthe vittigera (Salisb.) N.E. Br.; Antholyza vittigera Salisb.
Nomes comuns: Lírio-do-nilo, copo-de-leite, jarra, cala-branca.
English name: Chasmanthe.

Do Nilo Azul, provavelmente, já que à semelhança dele também este lírio africano nasce nas terras altas da Etiópia.

Identificação: As suas folhas, decíduas, laminares e longas formam verdes tufos erectos nos ruderais onde crescem. As flores, vermelho-alaranjadas, brotam em espigas longas e inclinadas, que se tornam progressivamente mais paniculadas ao longo da maturação. As flores, de perianto não diferenciado, zigomórficas, apresentam tétalas longas e incisas.

Tipo Fisionómico: Geófito.

Distribuição: Nativa da África meridional, encontra-se subespontaneamente na bacia do Mediterrâneo. Cultivada como ornamental.

Habitat: Ruderais, jardins e margens de caminhos.

Floração: Abril-Maio.

Princípios activos: Carecem de estudo.

Propriedades: Ornamental.

Partes usadas:

Usos: Muito frequente como planta de jardim.

Curiosidades: O seu nome científico, Chasmanthe, deriva do Grego, chasme, e significa «fendido», em alusão à morfologia das suas tépalas.

Publicado em Iridáceas | Etiquetas , , | 1 Comentário

Iris-pé-de-burro (Gynandriris sisyrinchium L.)

flora silvestre

Espécie: Gynandriris sisyrinchium L.
Divisão: Magnoliophytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales
Família: Iridáceas (Moráceas)
Sinonímia: Iris sisyrinchium L. Moraea sisyrinchium (L.) Ker. Gawl.
Nomes comuns: Íris, pés-de-burro, patas-de-burro, ginandrire-revestida; lírio-roxo-pequeno; maios-pequenos; pé-de-burrico.
English name: Blue-eyed grasses.

Alada e célere, Iris é a enviada de Zeus e de Hera na Mitologia Grega. Hermes no feminino, traz consigo um caduceu, a vara das duas serpentes, dos dois caminhos. Ela representa a união do Céu e da Terra, a estrada que liga os deuses aos homens, o plano inteligível do espírito ao plano sensível da matéria. Hesíodo apresenta-a como filha de Taumas, o espanto, e de Electra, o âmbar. Pertencente à raça de Oceano, é irmã das Hárpias. Diversos mitos representam-na como mãe de Eros, o Amor, e esposa de Zéfiro, o Vento suave do Ocidente. Agarrados aos seus pés, traz pedaços do arco do Sol quando à Terra vem entregar mensagens aos homens. Belas flores coloridas brotam, então, do seu caminhar.

Identificação: As delicadas flores azuis de 6 tépalas surgem entre Março e Maio e parecem brotar directamente do solo. As três tépalas exteriores apresentam uma mancha branca ou branca e amarela, ao passo que as tépalas internas são erectas, lanceoladas e completamente azuis. A Gynandriris não ultrapassa os 15/20 cm de altura. A raíz é particularmente aromática.

Tipo Fisionómico: Geófito.

Distribuição: Europa e Ásia.

Habitat: Terrenos incultos, ruderais, hortas, pastagens, solos alcalinos, locais soalheiros, clareiras de bosques.

Floração: Abril/Maio.

Princípios activos: Flavonóides e alcalóides não especificados.

Propriedades: Anti-tússica, vermífuga, odorífera.

Partes usadas: Planta completa, sobretudo a raíz.

Usos: Perfumaria. A espécie mais utilizada é a Iris germanica var. florentina (L.) Dykes e é empregue principalmente no tratamento de infecções respiratórias, estomacais, e epilepsia. Em perfumaria dá-se-lhe o nome de orris, que é obtido a partir do rizoma e deixado em maturação durante cerca de cinco anos. Esta fragrância, a par da do alecrim, da do mel e da canela, entrava na composição de vários filtros de amor da Antiguidade Clássica e época medieval.

Curiosidades: No Japão, é-lhe atribuído um papel purificador e protector. No dia 5 de Maio, os Japonese tomam banho de flores de íris para atrairem a boa-sorte. De acordo com Ogrizek, no Japão as íris são plantadas nos telhados de colmo como protecção contra incêndios e mau-olhado (Ogrizek, 1954). O seu nome científico, Gynandriris, refere-se ao Grego gyn (feminino) e andros (masculino), devido ao facto de o pistilo e dos estames estarem unidos. Sisyrinchium vem do Grego sys, porco, e rhynchos, nariz, por ser hábito destes animais foçarem nas suas raízes.

De acordo com a Botânica Oculta de Paracelso, as íris colhidas na hora de Vénus e colocadas debaixo das almofadas das crianças fá-las-ão ter sonhos proféticos.

Publicado em Iridáceas | Etiquetas , , | 1 Comentário

Gladíolo (Gladiolus italicus Mill.)

flora silvestre

Espécie: Gladiolus italicus Mill.
Divisão: Magnoliphytas
Classe: Liliopsidas
Ordem: Asparagales
Família: Iridáceas
Sinonímia: Gladiolus segetum Ker Gawl.
Nome comum: Gladíolo, calças-de-cuco, cristas-de-galo, espadana-das-searas.
English name: Glads, sword lilies.

Assim chamado por Plínio, o Velho, dada a semelhança que este escritor romano encontrou entre as suas folhas e a forma do gládio, espada curta, de origem céltica, muito usada pelos romanos, facto que hoje em dia nos leva a atribuir-lhes a sua invenção.  

Identificação: Planta perene, e cerca de 1m de altura, bolbosa, de flores hermafroditas, alternas, compostas por 6 tépalas desiguais, tendencialmente elípticas, e um androceu de três estames. As cores podem variar, mas por norma os gladíolos selvagens apresentam um tom rosa-vivo. Podem atingir cerca de 1.10 de altura, dependendo das espécies. Apresentam folhas estreitas, sub-compridas, glabras e paralelinérveas. É possível encontrar-se nas suas vizinhanças uma congénere G. illyricus, de pétalas algo rombóides, um pouco menos diferenciadas e de ápice mais acuminado, sendo o seu hábito em geral um pouco menos robusto.

Tipo Fisionómico: Geófito.

Distribuição: Mediterrâneo, Ásia, África, incluindo Madagáscar.

Habitat: Prefere solos arenosos, húmidos. Surge em prados, margens de florestas, junto a cursos de água.

Floração: Abril/Maio.

Princípios activos: Alcalóides e flavonóides.

Propriedades: Tóxica.

Partes usadas: Flores.

Usos: Ornamental.

Curiosidades: Na Roma Antiga, os gladíolos eram oferecidos aos gladiadores vitoriosos. Os gladíolos que actualmente se cultivam em jardins são espécies híbridas.

Publicado em Iridáceas | Etiquetas , , | 1 Comentário

Liliaceae (Liliáceas)

flora silvestre

Liliaceae

Sendo que a grande maioria é somente usada como ornamental, as espécies de alho, cebola, cebolinho e espargos estão entre as mais afamadas Liliáceas comestíveis.

Porém, esta é uma família muito heterogénea, cujos géneros nem sempre partilham os mesmos ancestrais, facto que levou a que muitas espécies nela incluídas tenham sido já repatriadas às suas respectivas famílias e ordens, como foi o caso do asfódelo (Asfodeláceas), do agave (Agaváceas), do lírio (Iridáceas), dos narcisos (Amaryllidáceas), agora na ordem das Asparagales, e da salsaparrilha (Smilacáceas), de regresso à ordem da Liliales. Muitos outros exemplos poderiam ser citados. Por este motivo, e por uma questão prática, incluí nesta categoria diversos espécimes pertencentes actualmente a diversas famílias e que já integraram as antigas Liliáceas, o que estará indicado em cada taxonomia.

Hoje em dia, segundo o novo sistema classificativo APG III, da ordem das Liliales, que ainda se mantém, fazem parte as  Alstroemeriaceae (+Luzuriagaceae), as Campynemataceae, as Colchicaceae, as Corsiaceae, as Liliaceae, as Melanthiaceae, as Petermanniaceae, as Philesiaceae, as Ripogonaceae e as Smilacaceae, sendo que as Liliaceae ainda contam com alguns géneros bem conhecidos em Portugal, tais como Erythronium sp., Gagea sp., Fritillaria sp., Lilium sp. e Tulipa sp.

Morfologia

As antigas Liliáceas são maioritariamente geófitos, por norma bolbosos ou tuberosos, com excepção do Asphodelus fistulosus, que se trata de uma herbácea anual (terófito), também aqui tratado monograficamente. As folhas são alternas ou verticilares, lanceoladas e espessas, caulinares ou simplesmente basais. Possuem inflorescências hermafroditas, cimosas ou umbelares, sempre muito vistosas, razão pela qual são tantas vezes usadas em jardins. As flores, por vezes solitárias, são actinomórficas, trímeras (cada ponto de inserção é composto por três peças, sendo que possui ao todo seis pétalas e seis sépalas), um androceu de seis estames e um gineceu de três carpelos unidos a um ovário súpero. O seu fruto varia, podendo ser uma baga ou cápsula.

Filogenia

flora silvestre

Ruscaceae

Recentes análises de ADN, a par de uma mais cuidada observação de características morfológicas,  vieram demonstrar que as Liliáceas eram compostas por uma amálgama genética, bastante diferenciada em alguns casos e bastante similar noutros. Daqui surgiram diferentes famílias, e houve mesmo casos de taxa movidos para outras famílias já existentes na ordem das Liliales ou noutras, principalmente na das Asparagales. Alguns especialistas defendem que a ordem deveria ser dividida em Liliales, Asparagales e Dioscoreales, recentemente admitidas mas não sem controvérsia, o que pode gerar algumas confusões, sobretudo com sistemas de classificação anteriores. Por este motivo, a consulta bibliográfica deve ter sempre em consideração a data das edições.

Aliáceas (alho) – De acordo com APG III, pertencem agora à ordem das Asparagales como sub-família das Amaryllidaceae e a par das Agapanthaceae. É o género que comporta mais espécies em Portugal. Apresentam inflorescências dispostas em umbela lassa, tendencialmente esférica, branca ou rosada, podendo ser arroxeada, como no caso dos alhos-porros. São fortemente odorosas.

Asparagáceas (espargo) – Família que originou a ordem das Asparagales. Podem ser facilmente confundidas com coníferas ou tojos.

Asfodeláceas (asfódelo) – Enquadram-se agora na família das Xanthorrhoeaceae, na ordem das Asparagales. Caracterizam-se principalmente por deterem raízes tuberosas em vez de um bolbo. As flores geralmente organizam-se em cacho terminal, semelhante às das Hyacinthaceae.

Hiacintáceas (jacinto) – Sub-família enquadrada na grande família das Asparagaceae, dentro da ordem das Asparagales. Apresentam múltiplas flores, por vezes dispostas em cachos longos e geralmente densos. Surgem em várias alturas do ano.

Ruscáceas (gilbardeira) – Também pertencentes à família das Asparagaceae na ordem das Asparagales. Em Portugal apenas se encontram duas espécies, a comum gilbardeira e o selo-de-salomão. A gilberdeira está amplamente difundida e é facilmente reconhecível pelas suas bagas vermelhas que brotam da nervura central das folhas.

Smilacáceas (salsaparrilha) – Família já anteriormente separada das Liliaceae pelo Thorne System (1992) e posta na ordem das Dioscoreales. Com o sistema APG II (2003), regressaram como família autónoma à ordem das Liliales. Na P. de Lisboa apenas se encontra assilvestrada a salsaparrilha, planta escandente e espinhosa, de folhas sagitadas, de margem áspera, e bagas negras em cacho.

Alhos-selvagens

Asfódelo

Cebola-albarrã

Cila-outonal

Croco-outonal

Espargos-silvestres

Estrela-de-belém

Jacinto-das-searas

Salsaparrilha

Publicado em Aliáceas, Asfodeláceae, Asparagáceas, Colchicáceas, Hiacintáceas, Liliáceas, Ruscáceas, Smilacáceas | Etiquetas , , , , | Publicar um comentário